O que deveria ser um procedimento simples para rejuvenescer o olhar se tornou um pesadelo irreversível para a empresária Alessandra Veiga Lobo Collichio Ferreira, de 49 anos.
Após se submeter a uma blefaroplastia — cirurgia que remove o excesso de pele das pálpebras — em um hospital de Minaçu (GO), ela perdeu a visão do olho direito.
A recomendação do procedimento veio de um amigo da família, o oftalmologista Ariano da Paz Melo, que afirmou que a cirurgia era simples e que ele apenas auxiliaria a colega Ana Cláudia Santos Queiroz, médica vinda de Minas Gerais.
No entanto, logo após acordar da anestesia, Alessandra já sentiu dormência intensa na região dos olhos e percebeu que algo estava errado.
“Meu olho estava louco, se mexendo sozinho”
Em entrevista à TV Anhanguera, Alessandra descreveu o choque ao ver seu reflexo no espelho.
“Senti um peso na testa, o olho repuxando e pesando. Quando me olhei, meu olho estava completamente torto, se movimentando de forma estranha.”
Mesmo relatando os sintomas à equipe médica, foi informada de que era algo normal e que apenas deveria fazer compressas geladas para aliviar o inchaço.
A empresária seguiu as recomendações, mas a dor não passou. Seu olho direito inchou, ficou dormente e começou a ter espasmos, dificultando ainda mais a visão. Preocupada, voltou ao hospital e foi examinada apenas visualmente, sem nenhum exame detalhado. Mais uma vez, os médicos garantiram que a situação era temporária e reverteria com o tempo.
“Eles tentaram salvar o olho, mas a visão já era”
Cinco dias após a cirurgia, Alessandra e seu marido, Eduardo Ferreira, decidiram buscar uma segunda opinião e procuraram o Hospital Fundação Banco de Olhos de Goiás. Lá, receberam a pior notícia possível.
“Os médicos tentaram salvar o olho, mas disseram que a visão não tinha mais jeito. A retina já havia descolado, e a córnea estava perfurada.”, relatou Eduardo.
A gravidade do quadro exigiu que Alessandra permanecesse em Goiânia por quase 60 dias, realizando consultas diárias no hospital nas primeiras semanas. Para tentar conter os danos, ela foi submetida a outra cirurgia de emergência, mas a perda da visão já era definitiva.
Negligência antes e depois da cirurgia
Além das complicações, Alessandra revelou que nenhum exame pré-operatório foi realizado antes da blefaroplastia, algo que é obrigatório segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM). Segundo o Boletim de Ocorrência registrado na Polícia Civil, não houve qualquer consulta pré-anestésica para avaliar riscos, algo que poderia ter prevenido a tragédia.
Mensagens trocadas entre Eduardo e Ariano, divulgadas pela TV Anhanguera, mostram que o médico minimizou a gravidade do caso e garantiu que a situação se resolveria sozinha.
“Até essa reação inflamatória do olho diminuir, é normal a visão ficar comprometida. Mas, conforme o inchaço baixar, vai melhorar”, escreveu Ariano em uma mensagem pouco após a cirurgia.
No entanto, um laudo emitido pelo Hospital Banco de Olhos em setembro constatou que Alessandra desenvolveu endoftalmite, uma inflamação grave no interior do olho, geralmente causada por infecção pós-cirúrgica.
“Isso marcou minha vida para sempre. Agora, estou lutando para que os responsáveis sejam punidos”, desabafa a empresária.
Médicos não se pronunciam e clínica se recusa a falar sobre o caso
A Polícia Civil investiga o caso, mas ainda não divulgou detalhes do inquérito.
Procurados pelo UOL, os médicos envolvidos, Ana Cláudia Santos Queiroz, Ariano da Paz Melo e a anestesista Adriana Silva Aleixo Melo, não se manifestaram.
A clínica Visage, onde Ariano trabalha, apenas declarou que “trata apenas de assuntos referentes a agendamentos de consultas”.
Por enquanto, Alessandra reúne documentos e exames para formalizar uma denúncia ao Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego), na tentativa de responsabilizar os envolvidos e evitar que outras pessoas passem pelo mesmo sofrimento.
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