Os casos de violência doméstica envolvendo filhos que agridem ou acabam tirando a vida de suas próprias mães sempre geram perplexidade e comoção em qualquer lugar. A figura materna, tradicionalmente associada ao amor incondicional, ao cuidado e à paciência, quando transformada em vítima de um ato extremo, leva a sociedade a refletir sobre os limites do afeto, a fragilidade da saúde mental e o abandono silencioso que muitas famílias enfrentam.
Foi exatamente esse o cenário devastador que abalou a cidade de Matão, no interior de São Paulo, e deixou toda a população em estado de choque.
Dona Deodata: uma vida dedicada aos filhos e à fé
A vítima desta história dolorosa foi Deodata de Almeida Santos, de 91 anos. Uma mulher que, apesar da idade avançada e das limitações físicas, ainda encontrava forças para manter sua rotina e seu espírito solidário. Muito conhecida no bairro Alto, onde morava há décadas, Dona Deodata era frequentadora assídua da igreja Congregação Cristã no Brasil e, segundo os vizinhos, era exemplo de fé, generosidade e força.
Nos últimos anos, ela enfrentava dificuldades de locomoção em razão de uma fratura no fêmur, mas seguia recebendo auxílio profissional em casa e, principalmente, mantinha o cuidado constante com seus filhos. Mesmo diante dos problemas de saúde mental de Walter Ribeiro dos Santos, seu filho, Dona Deodata permanecia firme, tentando garantir o bem-estar do filho e oferecendo todo o apoio que estava ao seu alcance.
Amigos próximos relatam que a idosa já havia enfrentado momentos delicados por conta do estado psicológico do filho, que apresentava episódios de comportamento alterado. Ainda assim, jamais abandonou a esperança de ajudá-lo.
O dia da tragédia que abalou Matão
Naquele dia fatídico, tudo fugiu do controle. Moradores da vizinhança perceberam algo incomum e logo acionaram a polícia. Walter foi visto andando pelas ruas do bairro com ferramentas nas mãos e afirmando ter cometido um ato grave dentro de casa.
Ao chegarem à residência, os policiais se depararam com uma cena dolorosa. Dona Deodata foi encontrada gravemente ferida. Apesar de todo o esforço das equipes de socorro, a idosa não resistiu aos ferimentos e morreu ainda no local. Walter foi detido imediatamente e encaminhado à cadeia pública de Santa Ernestina, também no interior paulista.
Comoção e dor diante de uma mãe que nunca desistiu
A notícia da tragédia se espalhou rapidamente e a comoção tomou conta de Matão. Nas redes sociais e nos cultos da igreja que frequentava, amigos e conhecidos fizeram questão de prestar homenagens emocionadas à idosa, exaltando sua força, sua fé e o amor incondicional que sempre dedicou aos filhos, mesmo em meio às adversidades.
Dona Deodata tornou-se um símbolo do sacrifício silencioso de tantas mães brasileiras que enfrentam, dentro de casa, o desafio de cuidar de filhos com transtornos mentais e que, muitas vezes, não recebem o suporte necessário de serviços especializados.
Um alerta para o drama silencioso de muitas famílias
A história de Dona Deodata expõe uma dura realidade que muitas famílias atravessam em silêncio: a falta de rede de apoio adequada para pessoas com distúrbios psiquiátricos graves e seus cuidadores. Muitas mães, como ela, vivem sobrecarregadas, tentando manter o equilíbrio entre o amor pelos filhos e o medo de situações que fogem ao controle.
Especialistas alertam que, sem acompanhamento contínuo, tratamento adequado e apoio social efetivo, o risco de episódios violentos pode aumentar. Casos como o de Matão evidenciam a necessidade urgente de políticas públicas mais amplas e de maior amparo tanto para os portadores de doenças mentais quanto para os familiares que convivem diariamente com esse desafio.
Publicar comentário